Manuel Evangelista




Com uma voz e palavras de um contador de histórias cá da terra, Manuel Evangelista fala-nos um pouco da sua vida, dos seus in­teresses e da sua obra literária. Licenciado em Sociologia pela Universidade Nova de Lisboa em 1999, este sexagenário recorda ter sido a propósito das cadeiras do curso que começou a entrevistar várias pessoas mais velhas que ainda se recordavam de algumas tradições e histórias locais, acabando estas por lhe despertar um interesse mais profun­do no romanceiro medieval.

O Romanceiro medieval é caracterizado por histórias antigas, muitas vezes pobremente documentada em papel, que eram contadas de boca em boca através de lendas e canções que na verdade têm um contexto histórico bem mais valioso do que se poderia esperar. Foi isso que concluiu Manuel Evangelista ao confrontar várias fontes orais com factos es­critos da nossa história em documentos ofi­ciais, tais como escrituras.


Jesuína Vitória, entretanto falecida, foi uma das mulheres da nossa freguesia cujos re­latos orais ficaram imortalizados em livro por Manuel Evangelista. Assim bem viva na memória deste ex-inspector da CP tornado autor por ter sido ela a sua primeira entrevis­tada e, segundo ele, “uma das melhores fon­tes de conhecimento do romanceiro nacio­nal”. 


A história local que mais lhe fascina é sem dúvida a história da criação do Paço e tudo o que a envolve. Essa paixão faz com que se desloque com frequência, à Torre do Tombo, com o objectivo de aprofundar o seu conhe­cimento e descobrir mais uma pérola de in­formação sobre o Paço no meio de incon­táveis documentos. Foi assim que encontrou o documento da escritura do Paço, de 3 de Maio e que guarda consigo cópia de cente­nas de documentos que comprovam as suas descobertas. 


Um dos exemplos sobre a história do Paço é a lenda do “Rei Preto”, que contém grande misticismo em sua volta. É ainda hoje uma incógnita sobre a verdadeira origem deste rei que seria preto – uns documentos afirmam que seria o neto bastardo de um rei cuja filha teria tido uma relação com um escravo, en­quanto outros, descrevem-no como filho astuto de um rei de África – Evangelista crê tratar-se do homem responsável pela Capela de São João Batista, Fernando Frade. 


A propósito da Capela, é-nos revelado que em 24 de Junho deste ano, dia de S. João Ba­tista, sairá um outro livro com duas teses sobre esse mesmo tema.

Isto porque, existe polémica sobre o nome que teria sido atribuído à capela desde a sua criação. 


Há quem lhe chame capela de Santo António, mas segundo a pesquisa de Manuel Evange­lista, o seu nome original é mesmo capela de S. João Batista e é isso que pretende expli­car na sua próxima publicação. É um monu­mento que deveria ter maior estima e con­sideração, uma vez que, se trata de uma das capelas mais antigas das redondezas, bem mais antiga que a criação da freguesia da Ra­posa, sendo o local de oração das populações em redor entre o séc. XV e XVII.


Até à data já publicou 11 livros, com muita investigação e dedicação por parte deste au­tor-historiador que conta com uma coleção privada de mais de 50 cd’s com entrevistas por ele mesmo conduzidas.


Manuel Evangelista é um homem que se dedica neste momento inteiramente ao es­tudo da história da freguesia centrada prin­cipalmente na história do Paço. Coordena um grupo de teatro amador apelidado “Aca­demia da Ribeira de Muge”, que tem como objectivo retratar muito daquilo que tem sido apurado pela investigação deste histo­riador.


Quando lhe é perguntado o que lhe fascina tanto nas nossas histórias, e qual a sua im­portância, é com alguma emoção que o his­toriador responde “Valorizar o que é nosso e não deixar morrer a história assim como valo­rizar o povo em si e as suas lendas”.


Livros publicados:

1. Histórias da Ribeira de Muge, ed. de au­tor, Garrido Artes Gráficas, 2004.

2. Lendas da Ribeira de Muge, ed. de autor, Garrido Artes Gráficas, 2004.

3. Mulheres da Ribeira de Muge-Orações, ed. de autor, Garrido Artes Gráficas, 2005.

4. Rudes Histórias da Ribeira de Muge, ed. de autor, Satelicor, 2005.

5. Paço dos Negros da Ribeira de Muge – A Tacubis Romana, ed. de Marcos Evangelista, Garrido Artes Gráficas, 2011.

6. Histórias Ferroviárias, Várzea da Rainha Impressores, Ed. de Marcos Evangelista, Fa­zendas de Almeirim, 2012.

7. Contos de Entre-Muge-e-Sorraia, Várzea da Rainha Impressores, Ed. de Marcos Evan­gelista, Fazendas de Almeirim, 2012.

8. Contos do Rei Preto e Outros Contos do Paço, Várzea da Rainha Impressores, Ed. de Marcos Evangelista, Fazendas de Almeirim, 2013.

9. Cancioneiro da Ribeira de Muge, Várzea da Rainha Impressores, Ed. de Marcos Evan­gelista, Fazendas de Almeirim, 2013.

10. Jesuína Vitória, Uma Mulher da Ribeira de Muge, Várzea da Rainha Impressores, Ed. de Marcos Evangelista, Fazendas de Almei­rim, 2013.

11. Burros da Ribeira de Muge, Várzea da Rainha Impressores, Ed. de Marcos Evange­lista, Fazendas de Almeirim, 2014.

Para adquirir uma das suas obras deverá contactar diretamente o autor ou consultá-las na Biblioteca Municipal de Almeirim

Poderá, ainda, consultar muitas destas histórias e algumas curiosidades sobre a história local nos seus blogs:

http://ribeirademuge.blogspot.pt/

http://academiadaribeirademuge-pacodosnegros.blogspot.pt/.
 
Veja a edição completa de abril em http://www.mediafire.com/file/u3ahf6xpwte26gf/jornal_Abril.pdf

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