D. Lucília Pereira, a parteira

É com carinho e agradecimento que muitas septuagenárias e octogenárias da nossa freguesia lembram o nome desta mulher chegando mesmo a apelidá-la, à boa maneira fazendense, “mãe desta gente toda”.
Por esse mesmo motivo, quem melhor para estrear a nossa rubrica “Pessoas Ilustres da terra” do que a parteira, agora reformada, Lucília Soares Antunes Pereira.
Embora uma orgulhosa conimbricense de gema, Lucília Pereira instalou--se na nossa terra aos 21 anos e aqui permaneceu até hoje contando agora 91 anos e uma memória invejável.
Foi na sua cidade natal, Coimbra, que Lucília tirou o curso de parteira com o objetivo de ajudar financeiramente a mãe e a irmã.
Depois de terminar o curso, Lucília travou conhecimento com Joaquim Felício, natural da freguesia, que a persuadiu a prestar os seus serviços em Fazendas de Almeirim já que naquela altura a nossa terra carecia imenso de instituições e pessoal com formação clínica.

Pouco tempo depois, Lucília casou com o Sr. Adriano, já falecido, também ele conimbricense, que, seguindo os passos da mulher, se mudou e estabeleceu profissionalmente como alfaiate na freguesia.
Embora fosse parteira e o seu trabalho consistisse no serviço ao domicílio, Lucília tinha sempre em conta o bem estar dos bebés e das futuras mães não hesitando aconselhar um hospital quando previa uma situação mais complicada daí que, na opinão desta experiente parteira sobre se o mais benéfico é um parto em casa ou no hospital, ela afirma sem qualquer pudor “no hospital!”, reconhecendo também que não há duas parteiras iguais e que tem plena consciência que quem pratica este ofício desempenha um papel fundamental no estado de espírito da parturiente e consequente parto.
Pelas suas mãos passaram “2000 e tal partos” mas caso lhe perguntem por um momento que a tenha marcado durante o exercício da sua profissão, a jovial e divertida D.ª Lucília não nos fala de um parto traumático ou abençoado mas sim do condutor bêbedo que uma vez, há muitos anos quando raros eram os carros na freguesia, a conduzia de volta a casa depois de ter assistido um parto e, após muitos avisos da parte desta parteira para que o homem mantivesse o veículo na estrada, deixou a carrinha resvalar e tombar, “eu é que não digo os nomes que lhe chamei”.

E aquando das súplicas do homem para que ela o ajudasse a voltar a carrinha porque “ai, se o meu pai sabe disto”, Dª Lucília afirma, parecendo reviver a fúria do momento, que lhe voltou costas e retomou o caminho a pé ralhando “pois é bem feito, andou para me matar!”.
Hoje em dia, Lucília, embora reformada, ainda auxilia umas injeções aqui e ali mas dedica a maior parte do seu tempo à família e sempre que passa pela estátua do Dr. Paninho, que tão bem conheceu, ainda lhe diz “Bom dia, Sr. Doutor” como sinal de respeito e afeto.


Sabia que...

Ah quem diga que gostaria que fosse feita uma homenagem à D. Lucília Pereira, ou parteira, como melhor é conhecida.

Não é de hoje que essa ideia surge, aliás, já foi tentado há uns anos alterar o nome da Rua Marechal Carmona, para Rua Lucília Pereira, sendo esta a Rua onde mora a parteira.

Aparentemente essa questão gerou polémica devido a alguns fatores, nomeadamente a ideia erronia de que a mudança do nome da rua tem um custo elevado, ou a questão da mudança dos documentos ser um trabalho acrescido aos moradores da mesma, mas esse processo não tem de ser algo complicado.
Aliás, não será a primeira rua a mudar de nome, também a agora conhecida Rua 24 de Julho, foi em tempos, Rua Dr. Oliveira Salazar.

Para que tal aconteça basta que os moradores da rua em questão se mostrem recetivos a essa mudança, comunicando à Junta de Freguesia a sua opinião.

Durante alguns anos poderá ficar a indicação, Rua D. Lucília Pereira (antiga Rua Marechal Carmona), para não haver confusão na correspondência. Com o tempo a adaptação irá sendo feita de forma gradual.
Esta seria uma boa forma de homenagear não só a parteira, mas ainda outras pessoas que tanto deram à nossa terra e que merecem o reconhecido do seu valor.

Fica assim a cargo dos moradores da Rua Marechal Carmona, manifestarem a sua vontade perante Junta, se realmente desejam que seja feito um merecido reconhecimento a esta ilustre senhora que ajudou a nascer grande parte da população da nossa terra.

Veja a edição completa de Março em http://www.mediafire.com/view/rt28w22r2a43syt/jornal.pdf

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